quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A morte do autor (Vitória, 2010/2)


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS E LETRAS
DOUTORADO EM LETRAS

RESUMO 1: PAULO MUNIZ DA SILVA (Bolsista da Fapes)

BARTHES, Roland. A morte do autor. In: ______. O rumor da língua. Tradução de António Gonçalves. Lisboa: Edições 70, 1987, p. 49-53

[...] a unidade de um texto não está na sua origem, mas no seu destino (BARTHES, 1987, p. 53).

O destino a que a epígrafe se refere é o leitor, cujo nascimento aciona a morte do autor, em que consiste, em Barthes, a tão questionada voz autoral. Não se trata de um destino pessoal, mas de alguém destituído de história, manco de biografia e despido de psicologia. Nesse alguém, reúnem-se, num mesmo campo, todos os traços que constituem o texto. Tais traços se referem às múltiplas escritas que, suscitadas de culturas diversas, se interpenetram e interagem em diálogos, paródias e contestações, como Vernant (apud BARTHES, 1987, o. 53) constatou, alumiando a compreensão parcial que os personagens da tragédia grega demonstraram em relação à duplicidade de sentido de que se investiam as palavras de tal obra.

De cara, em “A morte do autor”, Barthes questiona isto: de quem é a fala que Balzac grafa em Sarrasine? Isso não se sabe, posto que o começo da escrita destrua toda a voz autoral, toda a origem. Mas quem seria esse morto ilustre? Para Barthes, seria uma entidade moderna que, no findar da Idade Média, esculpiu-se no empirismo bretão, polui-se no Racionalismo francês e consagrou-se na Reforma como pessoa humana. Assim, o Positivismo o concebeu para a glória do capitalismo.

No entanto, de Mallarmé ao Surrealismo, com seu automatismo psíquico, a experiência da escrita desgastou a noção de autoria individual. Um texto não se forjaria numa linha de montagem em que se produza o sentido único de uma mensagem de que o autor seria seu arauto. Num texto, engendrar-se-ia um espaço de múltiplas dimensões. Aí se aliariam e se contrariariam escritas variadas, cuja originalidade se lhe escapa ao autor. Tessitura de citações, com múltiplos focos culturais, a escrita se devolve a seu devir, com a chegada do leitor e partida do autor.

Nenhum comentário: