UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS E LETRAS: DOUTORADO EM LETRAS
RESUMO 2: PAULO MUNIZ DA SILVA (Bolsista da Fapes)
AGAMBEN, Giorgio. O autor como gesto. In: Profanações. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 55-63.
[1] Compilação de atas e documentos resumidos [...] ou um resumo de certo documento histórico (AGAMBEN, 2007, N.T.)
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS E LETRAS: DOUTORADO EM LETRAS
RESUMO 2: PAULO MUNIZ DA SILVA (Bolsista da Fapes)
AGAMBEN, Giorgio. O autor como gesto. In: Profanações. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 55-63.
[...] definir como se exerce a função-autor [...] não equivale a dizer que o autor não existe
[...].Retenhamos, portanto, as lágrimas (FOUCAULT apud AGAMBEN, 2007, p. 57).
Nessa irônica resposta de Foucault a Goldman, Agamben identifica um gesto para mapear a circulação discursiva da função-autor como um processo de subjetivação. Mediante esse processo, um indivíduo se distingue e se institui com autor de certo corpus de textos.
Em face da palestra proferida pelo pensador francês (O que é um autor?), o filósofo italiano localiza no regesto[1] a demarcação das formas sob as quais o sujeito-autor pode apresentar-se na ordem do discurso. Essas formas se resumem na singularidade de sua ausência, posto que estabelecer-se como autor é apropriar-se do lugar de um morto.
Essa singularidade e esse ocupar-se, Agamben os localiza na instantânea e opaca ilegibilidade do sujeito que brota de outro texto foucaultiano: A vida dos homens infames. Ali, no encontro com o poder, reles existências humanas fulgem foscas, marcadas pela torpeza. Estariam esses seres, nesse instante em que cintilam turvos, grafados para se darem a conhecer? Não. E Agamben o justifica, discernindo, no gesto dos escribas que os grafaram, sua subtração a toda possível apresentação, como se a linguagem, mesmo acolhendo-os, não os exprimisse.
Nesse gesto em que se distingue o inexpresso em cada ato de expressão, Agamben localiza a presença do autor, que, como o infame do escrito foucaultiano, se apresenta no texto apenas num aceno. Ali, ao mesmo tempo em que se viabiliza a manifestação, estabelece-se a perspectiva de um vazio fundamental.
Assim, seja entre os seres infames, seja entre os personagens de Dostoievski, Agamben capta o jogo em que se põem as vidas reais nos umbrais do texto. Aí, nesse ponto em que o autor, num gesto, joga uma vida na obra, constitui-se ele, também, nesse gesto.
Nessa irônica resposta de Foucault a Goldman, Agamben identifica um gesto para mapear a circulação discursiva da função-autor como um processo de subjetivação. Mediante esse processo, um indivíduo se distingue e se institui com autor de certo corpus de textos.
Em face da palestra proferida pelo pensador francês (O que é um autor?), o filósofo italiano localiza no regesto[1] a demarcação das formas sob as quais o sujeito-autor pode apresentar-se na ordem do discurso. Essas formas se resumem na singularidade de sua ausência, posto que estabelecer-se como autor é apropriar-se do lugar de um morto.
Essa singularidade e esse ocupar-se, Agamben os localiza na instantânea e opaca ilegibilidade do sujeito que brota de outro texto foucaultiano: A vida dos homens infames. Ali, no encontro com o poder, reles existências humanas fulgem foscas, marcadas pela torpeza. Estariam esses seres, nesse instante em que cintilam turvos, grafados para se darem a conhecer? Não. E Agamben o justifica, discernindo, no gesto dos escribas que os grafaram, sua subtração a toda possível apresentação, como se a linguagem, mesmo acolhendo-os, não os exprimisse.
Nesse gesto em que se distingue o inexpresso em cada ato de expressão, Agamben localiza a presença do autor, que, como o infame do escrito foucaultiano, se apresenta no texto apenas num aceno. Ali, ao mesmo tempo em que se viabiliza a manifestação, estabelece-se a perspectiva de um vazio fundamental.
Assim, seja entre os seres infames, seja entre os personagens de Dostoievski, Agamben capta o jogo em que se põem as vidas reais nos umbrais do texto. Aí, nesse ponto em que o autor, num gesto, joga uma vida na obra, constitui-se ele, também, nesse gesto.
[1] Compilação de atas e documentos resumidos [...] ou um resumo de certo documento histórico (AGAMBEN, 2007, N.T.)
Um comentário:
Paulo, sensacional seu texto!
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