quarta-feira, 24 de março de 2010

LORDI, Corsal Er Robot. O pacobá compulsivo. Vitória: Edsimesmo, 2008.


TER A PIA DO BOTECO? Em CLAROS enigmas, TER O ROB do mote, DIR-LO- ia

Pacová. [do tupi-guara.=’folha que se enrola’]. Substantivo feminino. Brás. L. a AM. Bot.: Grande erva rizomatosa da família das zingiberáceas (Renealmia exaltada), do interior da floresta pluvial, com folhas muito amplas, flores vermelhas, e cujos frutos são cápsulas que produzem sementes dotadas de odor aromático semelhante ao do cardamomo ao qual podem substituir. Cana-de-macaco (orangotango). (Aurélio, versão 6.0). Capixabês: pacobá.

Agrada-me o vocábulo, mas isso é nada (paragrama saussuriano?). O mote não é primo, e já não compilo ofensas. Se meu próximo irar-se e advertir-me de que não me ama mais, não o punirei; tampouco o coagirei, a fim de que mo desdiga na cara. Não o enviarei à ponte que se partir nem direi que procure alguém distinto. Também não subirei à tribuna, para ordenar-lhe pragas. Ele é livre para me odiar, no entanto sei que me quer bem. Tal saber não está no obstar o sofrer, mas, sim, no não se desviar dele.

Relações já se desfizeram porque uma pessoa disse à outra que acabou, que não volveria mais. E ninguém cedeu, não insistiu nem inquiriu de novo. E gastaram o tempo assim, para provar aquilo que um e outro desperdiçaram, confirmando o dano irremediável de suas frases. Aterrem-se nossas crueldades, para se velarem as injúrias! Ofertemos a nosso par a igual capacidade que temos de nos absolver. Assim, encobrir-se-ia ampla fração de nossos pepinos (no bom sentido). Nossos rivais descendem de teimas.

Repreendemos com a taciturnidade a quem nos ama; supliciamos com silêncio a quem presumimos que nos quer bem; somos frios com quem depreendemos que nos preza, tudo isso, por uma declaração dita na complexidade irrestrita da convivência. Não vale o que se gozou antes; isso se expedirá como um boleto bancário de um grito, uma obscenidade, uma imprecação. A cobrança será infinda, mesmo que seu sentido tivesse sido provisório, peculiar do desafogo, de um instante desafortunado.

Não há dor estoica e teatral; o páthos declara-se do jeito errado e do modo incorreto. Por que não perdoar? A contenda é um desespero; nela, não se sobressaem agrados e elogios. No entanto, fingimos que é calúnia e desacato. Mais fácil odiar do que trabalhar as próprias limitações e as alheias.

A boicotagem instrui pelo martírio? Quiçá, sim, mas da pior forma, pois honra o castigo e se estima uma vingança. O ideal seria apartar-se um pouco, a fim de se pensar sobre o que produziu a discórdia. O boicote é um suplício mútuo, posto que ambos percam a perspectiva de fundar uma intimidade maior e mais nobre.

A dicção engoda, expede, e o corpo suplica um abraço. Busque-se o gesto: esse elemento extralinguístico que se pendura na palavra. Mire-se nos rios: eles indicam a importância do que é tortuoso. Seguem a natureza astuta da água, mas sempre levam a alguma margem... Nem que seja a terceira.

É no litígio que exibimos nossa criatividade. Repetimos clichês, sumimos, para impor uma lição ou surgimos com alguém, para humilhar ou fingir que nada sentimos. Reiteramos as convenções, salvaguardamos a vaidade e nos inquietamos com a honra mais do que com a “coleta relação”. Chamamos de desleixo a falta de cuidado com o que se disse, reivindicamos sensatez e impomos a rigidez de nossas razões, para expor o quanto somos fidalgos, coesos e constantes.

O aparte deriva de motivos; a reconciliação, não. O bem-querer sempre se apura em dar outros lances (coups de dês). O esmero é cuidar do erro. Não há primor sem emprego da borracha e da reescrita.


2 comentários:

Anônimo disse...

Bah che, paixão assim, só por alguém extremamente competente em todos os atos da conquista e da razão do despertar prazer.

arquiteliteraturas disse...

A escrita é mesmo fascinante; a leitura também o é; grato pelo comentário. Abraços, anônimo!